Uma das atrações da Semana Santa de Mariana é a “Procissão das Almas”, manifestação cultural pagã e popular única no Estado, que ocorre na madrugada da Sexta-feira da Paixão para o Sábado de Aleluia. Na ocasião, moradores vestem túnicas brancas e saem pelas ruas históricas arrastando correntes numa procissão iluminada por velas, revivendo uma antiga lenda marianense, a “Procissão do Miserere”.
Essa procissão foi narrada, pela primeira vez, pelo escritor Waldemar de Moura Santos, um dos fundadores da Casa de Cultura - Academia Marianense de Letras, no seu livro “Lendas Marianenses”, editado pela Imprensa Oficial do Estado de Minas Gerais, em 1966. Abaixo, a síntese transcrita do referido livro.
Reza a lenda que, nesta época do ano, “os mortos saem do cemitério, em procissão, e vão até a igreja, passando por todo Centro Histórico”. Conta-se que, certa vez, uma mulher, muito conhecida na cidade, por ficar vigiando a vida alheia, abriu a janela no momento em que passava essa “procissão dos mortos” em sua rua.
Um dos “integrantes do cortejo” saiu da fila e entregou-lhe uma vela acesa, que foi depositada ao lado de sua cama. No dia seguinte, quando a mulher acordou, percebeu que a vela havia se transformado em um osso.
À noite, ela ouviu alguém chamando pelo seu nome e, ao atender à porta deparou-se com um esqueleto que lhe pedia este osso. A mulher tomou um grande susto, caindo morta ali mesmo. Séculos depois, a população mantém-se guardiã desta história repassando-a de geração a geração.